Título: United States
Escrita por: #SahhChan
Dados do Projecto
Iniciado em: 21/09/2016
Finalizada em: 03/11/2016
Idioma: Português
Categorias: Anime & Mangá
Sub-Categorias: Kuroko no Basuke
Personagens: Alexandra Garcia, Kagami Taiga, Himuro Tatsuya, Personagens Originais
Classificação: +18
Géneros: Hentai, Romance, Shounen
Avisos: Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Spoilers
Aviso Legal:
Os personagens encontrados nesta história não me pertencem, mas aos respectivos autores e criadores dos mesmos. Os eventuais personagens originais desta história são propriedade minha. História sem fins lucrativos criada de fã e para fã.
Notas da Autora:
Esta One-Shot foi escrita em Português de Portugal.
Está a ser postada em sites do género (Spirit Fanfics), nos quais tenho um perfil público.
A maioria das personagens usadas e/ou mencionadas, bem como parte da história usada na Shot, pertencem a Sawako Hirabayashi, autor do Manga "Kuroko no Basket". Existem ainda personagens originais nesta obra, que são da minha inteira autoria e responsabilidade.
Sinopse:
Mesmo antes da "Winter Cup", Kagami toma a decisão de regressar à
América para voltar a pedir à sua mestra, Alex Garcia, para treiná-lo. À
chegada, um dos fantasmas do passado dela parece estar prestes a ser
desenterrado, o que obriga Kagami a reviver vários episódios de há
alguns anos atrás, acabando por se aperceber de coisas que nunca pensara
antes vir a sentir.
"United States" antecede a história descrita na OneShot "Winter Cup".
Capítulo Único
Aterrei
em Boston por volta das 02:00 da tarde. Naquele dia, estava um calor dos diabos
e eu ainda tencionava fazer algumas coisas antes de seguir para casa dela.
Parei num quiosque à saída do aeroporto para comprar o jornal desportivo, mas
pouco olhei para ele antes de o meter dentro da mochila, dobrado ao meio. Fui
direito à praça dos táxis e meti-me num, dizendo simplesmente ao motorista para
me levar ao supermercado mais perto da 72
Charles Street South. Quando eu chegasse a casa dela queria levar o máximo
de provisões possíveis... Caso contrário, das duas uma: ou passaria fome, ou
comeria fast-food o dia inteiro. E se
eu aumentasse demais de peso sem ser ao ganhar massa muscular, a treinadora
iria matar-me.
Comprei
uns quantos quilos de bifes, de batatas, massa e alguma carne mais variada.
Ainda enchi uns dois sacos e voltei ao táxi, pondo tudo na mala ao pé da minha
mochila. No geral, tudo ali continuava exatamente na mesma desde há uns meses,
quando eu tinha regressado ao Japão para começar o ano em Seirin.
Rapidamente
me voltei a habituar ao Inglês. Normalmente quando estava na América, tinha de
me adaptar rapidamente, pois os únicos com quem podia ir falando o Japonês ao
longo da estadia eram a Alex e o Tatsuya. Mas até o Tatsu voltara ao Japão...
Ou seja, os velhos hábitos iriam voltar, com a diferença que, desta vez,
seríamos apenas nós os dois. Não que fosse mau... Eu podia aproveitar para
exigir que ela me desse o mesmo tipo de treino que lhe havia dado a ele
enquanto eu havia estado afastado e ele permanecera em Boston. Ela teria muito
mais tempo para isso e, com apenas um aluno para treinar, seria bem mais fácil
e eu também conseguiria apanhar tudo com o dobro da rapidez. Precisamente... Só
via vantagens em ir procurá-la naquele momento. Era a altura perfeita.
Não
estranhei quando o taxista me deixou à porta e eu notei que as janelas do
apartamento dela estavam todas fechadas. Olhei para o relógio. Ela devia estar
no parque ao pé do campo de jogos, ao certo a ensinar os miúdos, como costumava
fazer connosco. Sabia que ela continuava nessas andanças e, talvez por isso, eu
continuasse a confiar nela para me ensinar sempre mais alguma coisa. Ela nunca
deixara, de facto, o basquetebol e isso estava bem patente em tudo o que
continuava a fazer da vida. Mas eu percebia como era. Eu também era assim.
Subi
para a entrada tocando à porta. O porteiro não tardou muito a vir abrir e, tal
como eu esperava, reconheceu-me de imediato. Falei com ele durante um tempo,
explicando-lhe que iria ficar por uns dias e pedindo-lhe que me abrisse a porta
para eu ter ao menos uma refeição decente pronta para quando ela chegasse a
casa, exausta de mais uma dúzia de aulas. Ele riu-se e limitou-se a caminhar à
minha frente, permitindo-me a entrada. Foi embora com o pretexto de ter de
continuar atento ao seu trabalho, pois começava a aproximar-se a hora de os
condóminos chegarem a casa. Eu agradeci e voltei para dentro depois de fechar a
porta, metendo mãos à obra e agarrando-me ao fogão.
Pus
uma frigideira ao lume, começando a descascar as batatas enquanto o azeite e o
alho iam fervendo lentamente. Ao fim de uns minutos, foi a vez dos bifes. Agora
era só fazê-los fritar um bocado ali e ganhar aquele gostinho. Aproveitei para
despir a sweat num instante,
procurando o avental atrás da porta e colocando-o para não sujar a t-shirt. Já ouvia, no entretanto, o
barulho da carne a ganhar uma crosta deliciosa ao lume. Sorri, meio convencido
para mim próprio. Não era para me gabar mas... Aquele jantar iria ficar
divinal. Um verdadeiro manjar dos deuses, tendo em conta a comida do avião
quando se viajava em classe económica.
Preparei
a panela com o óleo para fritar as batatas, em seguida. Ao mesmo tempo, ouvi o
barulho da porta da rua abrir, no exterior da cozinha.
-
Eu sabia que já tinhas chegado – ouvi-a pousar a chave na mesa da entrada,
certamente ao mesmo tempo que despia o casaco, para acabar por deixá-lo
simplesmente espalhado sobre o encosto do sofá grande – O Ralph disse-me que
tinha visitas à minha espera cá em cima.
Levantei
os olhos para encará-la quando a vi entrar divisão a dentro. Talvez não viesse
nem a propósito mas agora que me centrava nisso, notava-se bem que ela tinha
ganho algum peso. Mesmo com a actividade desportiva, era notório que a idade
começava a notar-se. E o estilo de comida que ela punha ao bucho todos os dias
fazia bem o seu trabalho nessa parte também, ao que parecia.
-
Visitas e jantar – acrescentei, voltando os olhos para os bifes novamente,
virando-os para os deixar cozinhar um pouco do lado oposto e mesmo ganhar alguma cor – Não tenciono
deixar que continues a subir algarismos na balança à conta de hambúrgueres,
pizzas e Coca-Cola.
A
sobrancelha direita dela arqueou-se, ao mesmo tempo que a boca se abria ao
olhar para mim.
-
Incrível como numa só frase conseguiste ser tão prestável e tão miserável,
Taiga – disse-me somente, fixando os olhos em mim sempre da mesma forma – Foi
para isso que te criei, para seres um mal educado?
-
Essa pergunta não corresponde bem à verdade, sabes?
-
Ai não? E porquê?
-
Porque tu não me criaste. Deste apenas uma pequena ajuda ao desenvolvimento dos
meus instintos desportistas, nada mais.
-
Hum, está bem, então.
Ela
calou-se dessa vez. Notei, ao olhá-la de relance, que dessa vez se limitava a
encarar a panela das batatas, embora me parecesse que a cabeça não se lhe
prendia bem ali, naquela cozinha. O ar dela soava mais sério, menos...
Semelhante ao da Alex que eu costumava conhecer e que aceitava de bom grado os meus picanços, retribuindo-os com toda a rapidez.
Desliguei
o lume dos bifes, deixando-os terminar de fritar no quente do azeite, as
batatas ainda longe de estarem no ponto, quando contornei o balcão para me
aproximar dela um pouco. Sorri de lado ao olhá-la de cima. Já estava mais alto
do que ela. Nem soava a que ela fosse mais velha do que eu se fôssemos a ver
disso por uma questão de alturas. Até porque... Mesmo que eu a chateasse, ela
sabia que para mim a idade não era mais do que apenas um número... Certo?
-
Tive saudades tuas, Alex – murmurei, bem mais sério dessa vez. Aos poucos, os
olhos dela deixaram-se fixar os meus, um mar pleno a perder-se no fogo intenso,
nem eu ao menos me apercebi durante quanto tempo. Sorri-lhe levemente depois.
-
Claro – disse ela com o mesmo sorriso leve dessa vez, aproximando-se um bocado
sem parar de me encarar daquela forma – Agora a sério, vais fazer o quê a
seguir? Chamar-me velha?
Abanei
a cabeça, acabando por suspirar ao mesmo tempo que virava costas para voltar de
novo a atenção para o jantar.
-
Se não percebeste a brincadeira, não vou perder tempo a explicar-te.
-
Nem precisas – ergui o olhar ao ver que ela suspirara também, entretanto – Vou
aproveitar para me ir pôr à vontade já que ficas de roda disso. Vê se não me
explodes a cozinha durante o tempo que vou e venho do quarto.
-
Ah! Tens cá uma lata! – queixei-me, subindo a voz uns quantos decibéis para
manifestar a minha indignação pelo comentário. Como se eu lhe fosse explodir a
cozinha... Mais depressa era ela a fazer isso, aliás, eu nem sei como é que
aqueles electrodomésticos ainda funcionavam todos tão bem se sofriam de uma
patologia chamada “grave falta de uso”.
Ela
sorriu, antes de se encaminhar para o corredor. Não fui capaz de não fazer o
mesmo, imediatamente de seguida.
Era
assim que nós éramos... Sempre a
picar-nos, sempre como se estivéssemos de costas voltadas, sempre às bocas um
ao outro, sempre entre socos psicológicos um ao outro várias vezes... Mas
sempre... Amigos. Era uma amizade verdadeira. Tirando a treinadora, ela era a
única rapariga que falava a minha língua. Que percebia claramente o meu tipo de
vocabulário. Que sabia todas as palavras-chave de trás para a frente e da
frente para trás, de cor e salteado. Ela era a única mulher que se esforçava
por fazer parte do meu mundo. Por compreender os seus esforços. Talvez por
também ela ser uma parte integrante dele, desde que me lembrava. Isso tornava a
nossa ligação ainda mais forte do que já era, só por si.
Comecei
a por a mesa, depois de tirar as batatas da panela e deixá-las escorrer um
pouco. Servi depois as bebidas e os pratos, tentando que não esfriassem muito
antes de ela voltar porque... Bem... Comida gelada não tinha grande graça... E
porque, obviamente, queria que a refeição lhe soubesse... Nos soubesse... O
melhor possível. Fui direito à porta, assim que notei que ela ainda não estava
de volta.
-
Alex, já está na mesa!
Nenhuma
resposta. Continuei a fixar o corredor, à espera que ela aparecesse a qualquer
momento, mas nada. Ainda não devia estar mesmo pronta. Ou, talvez, não devesse
ter ouvido...
-
Alex?
Nada
ainda. Estranhei, acabando por atravessar o corredor, indo para bater à porta
do quarto dela quando lhe ouvi a voz falar, bastante baixa, vinda lá de dentro.
Parecia estar ao telefone...
-
... E eu só te atendi para te dizer que é melhor parares de me ligar...
Olhei
para a maçaneta da porta, confuso. Que raio de conversa era aquela? Quem é que
a andava a chatear? E porque é que... Ela não me tinha dito nada sobre isso?
-
... Eu não tenho tempo para isto, Bill, já resolvemos tudo o que havia para
resolver.
Cerrei
os punhos automaticamente ao ouvir aquele nome. A sério que... Aquele filho de
um cabrão estava de novo a chateá-la? Era o quê, tinha-se cansado da puta com
quem se tinha metido e agora vinha tentar gozar o pratinho outra vez? Ela já o
tinha posto na rua, o que é que ele queria mais?
Abri
a porta um pouco, encostando-me à ombreira de braços cruzados a olhar para ela.
Devo ter feito barulho suficiente, porque ela virou-se logo na minha direcção e
não pareceu ficar muito descansada com a cara com que me viu. Ela sabia que eu
não gostava dele. Aquele filho de uma...!
-
Precisas de ajuda a despachar alguém ou tenho de ir partir uns dentes a algum
lado? – limitei-me a perguntar, nem me ralando com o tom com que o fiz. Ele
deve ter dito algo do outro lado, porque a expressão dela endureceu – Ouviste,
Alex?
-
Já te avisei. Deixa-me em paz.
Fiquei
a olhá-la quando ela desligou, acabando por me desencostar dali ainda com cara
de poucos amigos.
-
Ouviste ou não? – só questionei. Ela levantou os olhos para mim, abanando
apenas a cabeça.
-
Não é nada com que devas preocupar-te.
Estreitei
os olhos para ela.
-
É suposto isso servir para eu não me irritar ou para me deixar mais descansado?
-
Ambos.
-
Bem, azar o teu. Mission failed! –
respondi somente, parando depois à frente dela após ter avançado a passo lento
na sua direcção enquanto ia descruzando finalmente os braços. Suspirei – Porque
é que não me contaste que ele andava a rondar-te de novo? Eu podia resolver o
assunto, tu sabes disso!
Ela
virou costas, a sua voz subindo de tom quase de imediato assim que ela se
afastou do meu alcance.
-
Não vais resolver nada, eu sei tratar de mim! – disse, como se esse pedido
servisse para meter um ponto final naquele assunto.
-
Já o fiz uma vez.
-
Pois já, eu lembro-me, fiquei com marcas desse dia – olhou-me de relance.
Simplesmente tornei a aproximar-me. Fixei o ombro dela, meio destapado pela
camisola, por momentos. Eu também me recordava do dia em questão.
Principalmente dos berros dele, dos berros dela, dos meus berros e de ninguém
se entender na altura, no meio de tanta gritaria. Mas eu estava habituado a
gritos, os meus pais costumavam gritar bastante quando discutiam, tinha eu por
volta de uns 6 anos. Só que... Aquele gajo exagerava. Eu não gostava de ver a
forma como ele a tratava. Nem o meu pai fazia aquele tipo de cenas à minha mãe.
« Ele tinha ciúmes de todo o
tipo de coisas. Principalmente do que ela gostava de fazer. Das pessoas com
quem ela gostava de estar. Eu e o Tatsuya incluídos. Principalmente... De nós
os dois, mesmo. Eu nunca tinha percebido, de facto, o porquê disso mas... Ele
tinha-nos um ódio de morte. E tinha sido num dia em que eu fora lá a casa para
esperar por ela para um treino que os tinha ouvido discutir, daquela vez.
Já me tinha apercebido que o
casamento deles não ia bem. Durante várias vezes a Alex parecia aérea durante
os nossos treinos no parque. Nunca a vira chorar como a minha mãe costumava
fazer depois de ela e o meu pai se chatearem, mas sabia que não era por a Alex
reagir de forma diferente que, necessariamente, as discussões dela com o marido
não eram graves do mesmo modo. O Tatsu e eu já tínhamos trocado umas ideias
sobre isso, ambos tínhamos decidido que, se ele resolvesse algum dia fazer-lhe
algo à nossa frente, iríamos reagir, fosse como fosse. Foi a mim que me calhou.
Cheguei cedo naquela tarde, ela
ainda não devia estar a contar comigo. Tentei ligar-lhe antes de resolver ir
mesmo tocar à campainha dela, estava demasiado calor e tinha uma sede dos
diabos! Precisava urgentemente de um copo de água... Ou de um litro dela, visto
que me tinha esquecido da minha garrafa fora do saco, mas ela haveria de me
safar. Não atendeu. Aproveitei que um vizinho vinha a saír do prédio e
esgueirei-me para entrar. Subi as escandas a correr, tentando recuperar algum
fôlego quando cheguei ao 3º andar, respirando tão calmamente como era capaz no
momento, ou seja nadinha de nada. Levantei a mão para tocar à porta e foi aí
que me apercebi dos primeiros gritos.
Ela parecia possessa com alguma
coisa. Cá de fora, eu não conseguia descodificar as palavras certas, mas
consegui aperceber-me do essencial.
- ... Já te mandei saíres da
minha casa...!
- A casa também é minha!
- Eu não tenho vocação para
“corna mansa”, Bill!
- Já te disse que foi só uma
vez! Foda-se, és surda?
- Vais saír da minha casa e é
agora!
- Eu não vou a lado nenhum!...
Fixei a fechadura durante um
bom tempo, estreitando os olhos ao aperceber-me de cada palavra. Aquele paspalho
de uma figa, ele... Tinha-a traído. Ele tinha-a traído e ainda se julgava no
direito de...?
- ... Não queres ir não vás, eu
mando-te a bagagem pela janela! Não vou aturar-te mais aq-...!
Paralisei por completo no
momento em que a porta se abriu e a vi à minha frente. Estava certo, eu tinha
tomado esse compromisso com o Tatsu, se ele se metesse com ela, aquele que
estivesse por perto iria reagir e fazê-lo pagar por isso. Só que, apesar de ser
mais explosivo que ele em termos de palavras... Eu era bem menos de me deixar
envolver em pancadarias do que o Tatsu. Pelo menos naquela altura, eu era
assim. Era esse tipo de gajo. Antes de... Levantar a cabeça daquela vez...
Antes de levantar a cabeça e... Perceber que ela... Estava a chorar.
Não exactamente a chorar,
ela... Os olhos dela estavam demasiado brilhantes. Ela cerrava os punhos de uma
forma que eu, por um lado, não era capaz de descodificar se pretendia
segurar-se para não deitar sequer uma lágrima à frente dele, ou para não lhe
atirar com algo bem duro acima até lhe partir a cabeça. Porque... Seria assim
que a Alex reagiria a uma coisa daquelas. A Alex não era de se ficar. Ela era
forte. Não era?
- T-... Taiga... – Ela parou
quando me viu, desviando os olhos da direcção dos meus – Taiga, por favor, espera
lá em baixo...
- Esse puto não entra na minha
casa!
Olhei dela para ele. Fui
cerrando os punhos tal como ela, mas eu não tentava não chorar, seguramente. Só
tentava ter força para fazer o que tinha dito ao Tatsu que faria. Porque...
Nenhum cabrão tinha o direito de fazê-la ficar nervosa daquela maneira. De a
fazer chorar ou quase a levar a isso. Fosse o marido dela ou o raio que o
partisse!
- Não a ouviste? A casa NÃO É
tua, DESANDA DAQUI!
- Taiga...
Não liguei a quando ela me
tentou afastar, entrando casa a dentro e indo logo direito a ele. Eu tinha
crescido... Já não tinha 10 anos. Tinha praticamente a altura daquele “armário
ferrugento” de meia-tigela. Não tinha medo. Dava-lhe no focinho, se fosse
preciso, aguentava bem com ele.
- Já te disse para te pores na
RUA!
Não esperei por um segundo
empurrão para reagir... Ou por um segundo murro na boca. Eu podia ser mais
novo, mas isso não era garantidamente mau. Tinha mais genica, até mais força se
quisesse, porque eu não conseguia controlá-la muito bem, mesmo ela mo dizia
várias vezes durante os treinos. Por isso, fui até bastante rápido a
levantar-me. Consegui desviar-me dessa vez... Ele não tinha muita pontaria e eu
nem sabia distinguir se o tipo seria mesmo mau em acertar no alvo ou se estava
um bocado bêbado porque, ao longo de alguns movimentos, parecia que até lhe
estava a custar aguentar-se de pé.
- Parem com isto, já chega! –
ouvi-a gritar-nos. Ignorei. Ele fez o mesmo e voltou a tentar acertar-me.
Desviei-me novamente, aproveitando aquela descoordenação dele, e agarrei-o pela
zona da nuca e retribuí o empurrão, conseguindo que ele saísse porta fora. Não
foi difícil fechá-la depois disso.
Respirei fundo, olhando para a
minha mão depois de a levar à cara, as costas dela ficando subitamente
recheadas de uma cor vermelha quando as passei pelo lábio. Mesmo só o tendo
conseguido fazer uma única vez, aquele monte de esterco tinha-me acertado em
cheio. E com força suficiente para me rebentar um bocado a boca. Merda... Que
filho de uma...!
- Abre a merda da porta! –
ainda o ouvi gritar lá fora. Levantei os olhos para a Alex, mal a voz dele se
tornou novamente audível – Alexandra! Abre já!
Ignorei-o. Estava demasiado
fixo na reacção dela para lhe dar qualquer importância que fosse. Porque... Ao
contrário do que eu pensara que iria acontecer... Ele conseguira, de facto,
fazê-la chorar realmente. E eu nunca o perdoaria por isso. »
Meio
que lhe sorri, desviando os olhos dos seus.
-
É, eu também fiquei – arqueei um bocado as sobrancelhas, acenando prontamente,
com um ar mais sério, assim de repente – Acho que ainda hoje sinto o lábio
inchado como se tivesse sido ontem que levei aquele murro. Tenho que confessar
que o filho da mãe tem força.
Ela
olhou-me, bem mais séria do que eu tencionava. Era suposto ela perceber que eu estava a ser meio irónico.
-
Por isso mesmo, afasta-te disto! – disse, sem rodeios – Não te metas, Taiga.
Não é um problema teu.
Levantei
o queixo, no mesmo instante.
-
É um problema meu a partir do momento em que ele se mete contigo.
-
Porquê?!
-
Porque eu GOSTO de ti, porra! – gritei-lhe dessa vez, deixando-me aproximar
dela até ficarmos frente-a-frente.
Foi
como se os meus olhos queimassem os dela, o mar dos dela apagasse ao mesmo
tempo a chama dos meus. Era verdade. Eu... Gostava dela. Era essa a palavra
certa, não existia outra para... Explicar. Ela era... Como... Uma mãe para...
Não, uma mãe não. Uma... Irmã mais velha? Não... Fora de questão, isso soaria a
algo demasiado estranho. Ela era... Era a minha melhor amiga! Isso bastava,
era-me suficiente para explicar aquele sentimento. Para dar um sentido a como
eu me sentia bem, como me sentia completo quando a tinha por perto. Eu...
Gostava mesmo dela. De uma maneira
meio doentia mas que, ao mesmo tempo, nem eu próprio sabia bem como estruturar.
Tudo na forma como nos relacionavamos soava forte demais, mesmo nós dois sendo
apenas discípulo e mestra. Tudo na nossa amizade... Era importante demais para
mim. E talvez eu não tivesse bem a certeza de até que ponto ela me poderia
fazer falta um dia, mas... Eu sabia que estar longe dela não fazia parte dos
meus planos num futuro próximo. Simplesmente não podia fazer. Era impossível
que fizesse. Não quando... Quando tudo o que eu pensava, tudo o que eu
sentia... Se tornava tão forte, tão mais... Com um sentido tão maior mas tão
confuso ao mesmo tempo quando eu pensava nela.
Eu
sabia... Chegava a ser muito estúpido que eu a visse assim. Especialmente se,
um dia, ela chegasse a pensar nisso, a aperceber-se bem disso. Nem eu mesmo
sabia como falar do assunto e, de facto, talvez fosse preferível guardá-lo para
mim. Era... No fundo, era mais fácil continuar a vê-la como sempre tinha visto,
como me esforçava por continuar a ver: apenas como uma amiga. Talvez... Uma
amiga especial. Que eu quereria ter sempre por perto, que me podia esforçar por
proteger, mesmo ela gostando tão pouco disso por se preocupar demais comigo.
Mas era assim que as coisas eram... Preocupavamo-nos demais um com o outro, era
dessa forma que uma amizade devia ser... Não era? Ou eu estava errado quanto a
isso? Ou a base do pouco que tínhamos não cobria esse tipo de acções, de parte
a parte?
Continuei
somente a encará-la, fogo temperado em água gélida, à medida que ela ia
quebrando todas as minhas defesas, a cada respiração. Eu nunca... Nunca soubera
bem como reagir a proximidades. Às dela, principalmente. Ficava sempre
encabulado quando ela tentava beijar ou apertar-me as bochechas, quando era
mais miúdo. Quando me abraçava ou pegava no colo, eu sentia o rosto ferver-me
da raíz à ponta dos cabelos. Lembrava-me... Que o Tatsu costumava fazer troça
de mim por conta disso, às vezes. Simplesmente, eu não sabia... O que fazer.
Como... Como responder-lhe, sem soar a um idiota. Sem soar a como... Uma
criança a quem uma mulher dá atenção pela primeira vez. Uma atenção que eu
tinha, inclusivamente, pouco recebido de outra mulher: da minha própria mãe, que,
por conta do trabalho, raramente tinha algum tempo para mim. Eu não queria...
Que a Alex achasse que eu a via como uma substituta dela, apenas isso. Devia
ser só isso, de certeza absoluta. Aquele gostar
que eu sentia. Só podia ser isso...
Ou não?
-
Alex... Eu...
-
Schh... – engoli em seco no mesmo instante, no momento em que os dedos da mão
dela pressionaram os meus lábios, impedindo-me de continuar sequer a
raciocinar, quanto mais a produzir um discurso coerente. O toque das suas mãos
passou a procurar-me o rosto. Os cabelos. A nuca. Os meus olhos continuavam
presos nos seus, sem descolar um milímetro, sob ameaça de loucura. Eu... Eu
sabia que estava louco... Só podia ser essa
a resposta...
Porque
o eu aproximar-me como estava a fazer... O encaixar as minhas mãos na cintura
dela como estava a fazer... O deixar-me roçar o nariz pelo dela à medida que os
meus olhos se fechavam como estava a fazer... Só podia significar que eu tinha
entrado num patente estado de loucura. E que, quando aquele transe terminasse,
eu iria ser considerado culpado das minhas acções e levado a arrepender-me.
Porque... Eu não devia...
Eu
não devia...
... Beijá-la.
Então...
Porque é que eu queria? Porque é que... Os meus lábios só se moviam mais nos
dela, porque é que... As mãos dela procuravam mais o toque do meu peito? Não
era... Suposto ela querer aquilo também, pois não? Nós... Não era suposto...
Aquilo saber tão bem assim, ser tão... Bom assim, pois não?
Alex...
Eu
sentia-me... Tão confortável com ela. Tão confortável e ao mesmo tempo...
Assustado. Era a primeira vez que... Eu abraçava uma mulher assim. Que... Os
meus lábios procuravam os de uma mulher daquela forma. A primeira vez que eu...
Sentia o meu coração bater tão forte daquela maneira, quase perto de me apertar
tanto a pontos de me fazer quase deixar de respirar. Era... Tão confuso. A
minha cabeça não estava a raciocinar, de todo. O meu cérebro tinha parado, eu
era apenas controlado pelo instinto. Apenas... O mero instinto, que só me pedia
para não parar com aquele toque, aqueles beijos. O instinto... E ela.
-
És... Tão bonita... – sussurrei-lhe ao ouvido, em voz baixa. Senti,
automaticamente, a minha pele tremer com o arrepio dela, quando o fiz. Nem
sabia porque... O dizia. Porque... Era estúpido, certo? Um tipo como eu nunca...
Nunca diria as coisas daquela forma. Nunca... Falaria daquela forma, por
muito... Por muito... Estranho que se
sentisse.
Aliás,
era sequer normal um gajo dizer coisas daquelas?!
Não
era. Um gajo... Só dizia coisas daquele género quando... Quando estava
apaixonado e essa merda de amor só acontecia nos filmes e nas novelas. E era
uma parvoíce pegada, porque... Isso nem combinava comigo. Eu não era assim. Não
era o tipo de rapaz que se apaixonasse assim, à toa, do nada. Além de que...
Não fazia sentido. E, mesmo que fizesse, ela nunca... Sentiria esse tipo de
coisas por mim. Eu não passava de um puto. Um puto que ela vira crescer, era só
o que eu era. E, lamechices à parte, eu não tinha a certeza se quereria
tornar-me em mais do que isso, aos olhos dela. Porque... Oh, vá lá... Ela não
precisava de alguém que a desapontasse de novo, pois não? Já tinha tido a dose
dela com aquele energúmeno daquele ex-marido, tinha-lhe sido mais do que
suficiente. Eu não queria... Ser outra desilusão.
E,
rebuscando todas as minhas ideias internas, eu não encontrava um único vestígio
de algo que me dissesse que eu não me tornaria numa, caso alguma coisa
acontecesse entre nós dois.
Portanto...
Eu tinha de esquecer aquilo. Tinha de parar de a abraçar, de protegê-la contra
o meu peito ou acariciar-lhe o rosto daquela forma, só para mantê-la mais
perto. Tinha, simplesmente, de... De... Merda, como é que eu a afastava agora
sem me desfazer todo em cacos por dentro...?
-
Eu... Alex...
Calei-me.
Eu... Eu queria mesmo afastá-la? Era isso? Porque... Pensar em afastá-la de mim
doía. Só o pensamento cortava-me os batimentos do coração, magoava, feria-o.
Agora a sério... Eu queria mesmo... Virar-lhe as costas? Logo agora? Depois
de... De estarmos assim? Mesmo aquilo sendo tudo tão errado?
Porque
era demasiado errado.
Eu
tinha 16 anos. Ela tinha algo como o dobro da minha idade e mais alguns meses.
Aquilo... Nunca daria resultado. Eu sabia disso, não era tão burro assim. Mesmo
nós já nos conhecendo há tanto tempo e as coisas acontecendo por mútuo
consentimento, eu não deixava de ser menor. E isso... Podia arranjar-lhe sérios
problemas, estivéssemos nós em que parte do planeta fosse. Coisa pela qual eu
não queria ser culpado, jamais. Porque... Aquela ideia estapafúrdia de que “a
idade era apenas um número” funcionava bem na ficção, mas a realidade
deparava-se com factores demasiado diferentes, que podiam abalar qualquer
espécie de romance.
-
Tu és... Tão importante para mim, Taiga...
Suspirei
apenas, antes de esconder o rosto nos cabelos dela, abraçando-a somente,
deixando-me apreciar aquele perfume suave que eles soltavam. Algo na minha
cabeça me dizia que... Não lhe era fácil falar daquela forma. A Alex era
demasiado esgroviada e desbocada, mas eu nunca a conhecera a ser-lhe fácil
falar acerca do que sentia num determinado momento. No fundo, nenhum de nós os
dois tinha facilidade nesse tipo de coisas. Éramos... Demasiado parecidos um
com o outro, nesse sentido.
-
Por favor, não... Não digas isso assim... – pedi, de novo no mesmo tom, afastando-me
depois para olhá-la. Era tão... Incrível como todas as minhas defesas perdiam a
força de cada vez que... Aquele mar me encarava com aquela intensidade. Como
ele conseguia deitar abaixo, todas elas, uma por uma.
Foda-se...
Eu
estava tão atolado em merda até ao pescoço, naquela história toda.
-
Desculpa...
-
Eu é que peço desculpa – apressei-me a dizer, um pouco mais alto, ao vê-la
desviar os olhos. Ao... Senti-la afastar o toque da mão da minha pele. Do meu
rosto. Porque... Aquele toque sabia-me tão bem e... E fazia-me tanta falta. E
deixava-me com uma porra de um vazio tão grande no peito não o poder sentir por
perto, quente na minha bochecha, como até ali estivera – Eu... Eu só não...
-
Eu percebo...
-
Não, não percebes! – interrompi novamente, fazendo a minha voz subir outros
quantos decibéis e a minha mão procurar a dela, uma vez mais, desesperada por
voltar a sentir-lhe aquele calor – É impossível perceberes algo que nem ao
menos eu próprio percebo sobre mim.
Ela
suspirou.
-
Taiga... – os olhos voltaram a encarar os meus, no mesmo instante – No tempo em
que eu estive casada... As coisas não correram muito bem, tu sabes disso. O
Bill tinha... Um feitio difícil – a mão dela voltou a procurar a minha
bochecha, aconchegando-a, fazendo o aperto no meu peito aquietar-se e
aligeirar, quase de imediato – Enquanto éramos namorados, ele tolerou as minhas
crianças. Mas ele sempre pensou que eu largaria os meus alunos quando
casássemos e... Digamos que o eu ter-me recusado a fazê-lo acabou por estragar
tudo entre nós.
Fixei-a,
a confusão a crescer-me em pleno no olhar.
-
Isso não tem nada a ver com...
-
Tem, tem muita coisa a ver – cortou ela, simplesmente me largando dessa vez,
antes de virar costas. As minhas mãos tiveram uma reacção quase imediata,
tremendo de tal forma que tive que cerrar os punhos, para que ela não a
notasse. Era como se... Elas tivessem lutado para voltar a agarrá-la. Como se
só o facto de ela lhes ter afastado o toque as deixasse geladas, prontamente –
Tu... E o Tatsuya... Vocês ajudaram-me muito na altura. Eram os dois rapazes
mais ligados a mim. Mantinham-me sã de mente. Davam-me coisas com que ocupasse
a cabeça. Os treinos que eu vos dava e o tempo que acabava por passar convosco
todos os dias dava-me forças para eu os aguentar de cabeça erguida, porque
tinha de vos guiar, de alguma maneira. E com isto, eu, consequentemente...
Também acabei por me ligar bastante a vocês os dois.
-
Alex...
-
É perfeitamente normal que nós dois... Que agora nos sintamos tão bem um com o
outro, desta forma, entendes isso?
Parei
somente a encarar a figura dela. Era... Normal. Claro que... Claro que não era normal! Ela estava o quê, a usar
aquele palhaço de uma figa como desculpa para eu gostar de estar com ela?
Para... Eu me sentir como sentia quando estava com ela? Aquilo era o quê, para
ela tentar explicar o que eu estava a pensar se nem eu próprio, tal como lhe
dissera, sabia bem o que estava na minha ideia sobre o assunto?
Eu
mesmo estava confuso com o que me estava a dar, naquele momento, caramba! Com a
forma como o meu coração batia quando ela estava por perto, quando... Quando me
beijava como fizera, nem há 10 minutos atrás. Quando me tocava e me abraçava,
quando deixava que eu a protegesse no meu peito, entre aquela merda de carinhos
todos que tinham preenchido aquela estupidez de momento que tínhamos
praticamente acabado de viver juntos. Eu não queria acreditar que a razão disso
era ele! Era o que ele fizera com ela. Não era justo, a razão não era essa!
Porque
é que ela não percebia?!
-
Ele não tem nada a ver... Connosco – limitei-me a dizer, cerrando mais os
punhos – Com o que sentimos.
-
Nem tu sabes o que sentes, Taiga! – a voz dela subiu de tom, os olhos fixando
de novo como flechas os meus, prontos a atacar se eu tentasse ripostar em minha
defesa com qualquer espécie de argumento – Eu conheço-te demasiado bem para
saber que não fazes ideia do que é.
-
E tu, sabes? – chutei, de imediato, avançando para ela de novo – Sabes, por
acaso, que raio de merda estás a sentir? Que raio de merda sentes quando estás
comigo? Quando me beijas? Por acaso sabes? Tens assim tantas certezas quanto
aos teus sentimentos para falares com tanta convicção assim, sobre os meus?
-
Eu sou tua professora. Só... Isso.
Aproximei-me
um pouco mais, a minha testa quase roçando na dela, perto o suficiente para as
nossas respirações passarem a sentir-se, novamente. Baixei a voz quando falei,
de seguida.
-
Essa fala é mesmo tua ou fabricaste-a só para ver se me convences?
Esperei
que ela respondesse, o que não aconteceu dessa vez. Em vez disso, os braços
procuraram de novo o meu pescoço, rodeando-o na mesma medida que os meus lhe
faziam o mesmo com a cintura, aproximando os nossos corpos por completo. Prendi
a respiração ao prensar os lábios nos dela, dessa vez sentindo que o gesto
seria completamente sem retorno, ao notar o cravar das unhas dela pela minha
nuca, quando o fiz. Ela também não pretendia voltar atrás. Tudo em que teríamos
de parar para pensar estava mais do que calcado. Já não iria acontecer, não
mais. Estava mais do que garantido que seria dessa forma.
Ela
não era... Jamais seria... Apenas e só
a minha professora.
Ela
era... Uma mulher. Uma mulher que eu começava a perceber que conseguia
deixar-me louco ao mínimo toque. Uma mulher que, a cada beijo que trocava
comigo, levava as coisas ao ponto de me deixar num transe completo, só à espera
de um próximo roçar dos seus lábios. Uma mulher... Cujo corpo eu... Notava
agora que... Deixava o meu simplesmente em alvoroço. Cujo corpo era plenamente
capaz de excitar o meu de uma forma demasiado agressiva para que eu aguentasse
assim tudo tão bem, de ânimo leve. Uma mulher que eu queria beijar, acariciar,
tocar, morder, amar, a noite inteira, se me deixasse.
E
eu sabia que ela ia deixar.
Deixei
as minhas mãos procurarem-lhe a zona mais a descoberto da roupa, a minha boca
depositando beijos pelos seus ombros e pescoço, tentando que estes não
permitissem que ela tivesse o impulso de se afastar do meu alcance. A paragem
seguinte foi bem mais íntima, quando os meus dedos lhe adentraram pela parte de
trás dos calções, conseguindo tocar-lhe pelas nádegas, sentindo aquela pele
macia e, simultaneamente, tão arrepiada dela fazer a minha ter a mesma reacção.
A cintura dela aproximou-se inevitavelmente um pouco mais da minha, os meus
quadris movendo-me apenas o suficiente até ela poder sentir-me e a como me
começava a deixar.
Eu
estava, decididamente, a ficar doido. E a culpa era toda dela.
Os
beijos voltaram a ser trocados. Aos poucos, fui começando a empurrá-la na
direcção da parede do quarto, até conseguir encurrar-lhe o corpo por completo,
o meu a barrar-lhe a passagem para fora dali. Sentia o ar ferver, custava-me
respirar por me estar a sentir tão... Tenso. Estava desejoso por mais, por
tê-la.
Não
era por experiência própria que eu sabia o que fazer. Ela havia sido, desde
sempre, a primeira mulher que se aproximara de mim àquele ponto, com quem eu
alguma vez tivera vontade de o fazer como tinha agora. Nunca antes me sentira
daquela forma, nunca antes quisera seguir tanto aqueles impulsos, que só me faziam
pensar em sexo. Habitualmente, eu não dava importância a essas coisas. Não
ligava a miúdas, não dava a mínima para curtes ou para a atenção de possíveis e
hipotéticas namoradas. Era, no fundo, apenas um tipo que só pensava no
desporto. Naquela ambição gerada pelo basquetebol. E era... Tão irónico... Que
tivesse sido precisamente aquela
mulher a despertar esse tipo de ambição em mim, um dia, a cultivá-la e a
fazê-la crescer.
Portanto...
Aquela seria a minha primeira vez. E daí que ela era minha professora? E daí
que era mais velha? E daí que... Aquilo não
era certo, afinal? Eu queria. Era isso que devia interessar-me, verdade? Eu
queria. Ela queria. Ambos queríamos fazê-lo, um com o outro. Ambos ansiávamos
por aqueles beijos. Ambos desejávamos aquele toque ou aquele corpo que nos
passava, agora, a conhecer com tão maior detalhe. Para ambos... Cada carícia
mencionava silenciosamente o quão bom seria fazê-lo juntos. De mim para ela,
cada beijo procurava explicar que aquela seria mais uma coisa que eu tencionava
que fosse ela a ensinar-me. Que eu adoraria, absolutamente, aprendê-la com ela.
Fechei
somente os olhos, deixando-me embrenhar nas redes dela quando os nossos gemidos
se elevaram pelo quarto. Os corpos começavam a suar em pilha, deixando os seus
odores misturarem-se, enquanto cada beijo era trocado. Enquanto os dedos e mãos
de um aprendiam a reconhecer o toque do outro. Enquanto o meu frio ia inundando
o calor dela, a cada vez, a cada orgasmo a que chegávamos juntos. O ambiente
ia-se tornando mais abafado, mais insuportavelmente quente, a cada movimento
dos nossos corpos um no outro. A cada promessa não dita que o chapar dos nossos
lábios acabava por calar.
Ainda me era difícil acreditar que a tinha nos meus braços.
Que ela chamava por mim daquela forma. Que era o meu nome que ela dizia,
totalmente em êxtase, naqueles momentos. Ainda não me fazia sentido que assim o
fosse, ainda parecia uma espécie de sonho picante e idiota, daqueles que
normalmente os putos têm com as professoras por quem têm alguma paixoneta
parva. Mas... Aquele era tão real...
Que eu não me importaria, de todo, de ficar preso nele para sempre com ela.
***
Não tinha nem ao menos vontade de mexer um músculo que
fosse. Sentia-os, um a um, demasiado moles, a minha cabeça presa numa espécie
de transe do qual me custava demais conseguir sair. Sentia toda a zona do corpo
em que as mãos dela ainda tocavam, que a pele dela ainda roçava, abundantemente
quentes. O suor escorria-me pela maioria dos locais, eu nem sabia ao certo
mencionar cada um. Mas... Isso não impedia que eu estivesse demasiado
confortável naquele ninho.
Mantinha os olhos fechados... Não queria acordar. Se aquilo
era, de facto, um sonho, eu... Queria apenas manter-me dentro dele o máximo de
tempo que me fosse possível. Estar naquela cama, entre aqueles lençóis com ela,
fazia despertar em mim um sentimento de tanta segurança mas, ao mesmo tempo,
tanto medo que chegava a deixar-me completamente em pânico. A possibilidade de
ela querer esquecer tudo aquilo, todas aquelas últimas duas horas era o que
mais me assustava. Tudo bem, ela tinha o direito de querer fazê-lo, eu não a
poderia nunca condenar por tal coisa, mas... Assustava-me bastante porque... Se
eu tivesse de ser obrigado a esquecer... De esquecê-la... Como raio é que eu ia conseguir ser capaz de olhar para ela
como olhava antes?
Senti-a aninhar-se mais no meu peito, a mão descendo e
subindo novamente desde os meus ombros à minha barriga. Toda enroscada naquele
abraço, eu só desejava que ela se sentisse quente o suficiente para que isso a
impedisse de se afastar durante um bom tempo. Aproveitar ao máximo... Ela não me iria querer condenar por querer
tanto isso, pois não?
Não conseguia... Não me lembrar de quantas vezes o Tatsu me
havia dito que aquilo acabaria por acontecer. Incrível como... Aquele idiota
sempre soubera... Até mesmo antes de eu próprio o que eu estava a começar a
sentir. Fosse pela forma como eu olhava para ela, como lhe falava... Como até
tinha ciúmes daquele... Cabrão do ex-marido dela... Nem eu mesmo me havia
apercebido e...
Aff...
Sim, o Tatsuya irritava-me. Sempre dera aquele aspectozinho
petulante de quem não dava a mínima para essas coisas, tal como eu, mas às
escondidas de toda a gente era um pervertido. Eu bem via o tipo de falinhas
mansas com que ele cantava uma rapariga diferente a cada semana... Algo totalmente
não o género dele, aos olhos de todos. Nem a Alex o conhecia dessa forma até há
bem pouco tempo atrás, pelo que eu sabia.
« Tentara, diversas
vezes, esquecer aquela semana. Há praticamente cinco dias que a Alex não dizia
nada, não marcava treinos, não falava comigo. Ela tinha casado há cerca de dois
meses... O dia daquele casamento tinha-me deixado mais de rastos que uma merda
de jogo qualquer. Lembrava-me que tinha fugido por um tempo da festa... Não me
sentia bem, aquilo era tudo menos um motivo para eu estar feliz. Ela tinha
cometido precisamente a mesma asneira que os meus pais... Logo ela, que eu
julgava que nunca seria tão burra a esse ponto. Logo ela, que... Era a minha
melhor amiga... Ia deixar-me sozinho agora, por conta de um merdas de um homem
qualquer??!
Tinha fugido para
casa para ir buscar a bola de basquetebol que ela me tinha oferecido. A
primeira coisa que ela me tinha dado, pouco depois de me começar a treinar.
Livrei-me da porcaria daquela gravata horrorosa e desconfortável e abri os
primeiros botões da camisa, antes de sair, novamente, agora em direcção ao
campo de jogos. Tinha conhecido, tanto o Tatsu como ela, naquele lugar. Mas o
Tatsuya revelara-se um traidor. Ele não pensava como eu, ele achava bem ela
casar, ser feliz. Mas... Ela não seria feliz. Eu sabia disso. A Alex era como
se fosse... Um pássaro. Ela era... Demasiado livre para aguentar estar presa a
alguém. Sem poder voar, sem poder... Ser totalmente ela. Não me agradava que
ela deixasse de ser aquela Alex, a minha melhor amiga. O Tatsu nem se
importava. Isso irritava-me bastante nele.
Mas, entretanto, as
coisas haviam mudado um pouco. Ele acabara por chegar à mesma conclusão que eu,
de que a única coisa que aquele homem tentaria fazer seria mudar a Alex.
Afastá-la de nós. Ele não gostava que ela desse aulas. Odiava que ela tivesse
as crianças dela. Que nós fôssemos as crianças dela.
“Tens falado com a Alex nos últimos dias? Ela não me
responde às mensagens há praticamente uma semana, foda-se, estou a ficar
preocupado a sério...”
A resposta dele
tardou um pouco. Normalmente, o Tatsu era rápido a responder-me... A não ser
que, na volta, estivesse ocupado com alguma coisa. Ou alguém.
“Não, há uns dias que não falamos. Hum... Porquê essa
preocupação toda, Taiga, aconteceu alguma
coisa entre vocês os dois que eu não saiba?”
Fiquei entre o
confuso e o chocado a encarar o telemóvel, sem saber bem o que deveria
responder, para início de conversa. Eu não estava bem a ver, na realidade, onde
aquela pergunta dele pretendia chegar... Ou melhor, eu recusava-me a querer
ver, era mais isso.
Ele... Mas ele...?
“Oii?? Tipo o quê?? Claro que estou preocupado, da última
vez que tivémos treino com ela, o idiota do Bill ligou-lhe e ela saiu a correr
com uma cara de enterro, queres que não esteja preocupado?!”
“Sim, sei. Pronto, calma lá, calmeirão! Só perguntei porque
notei que tens olhado muito para ela... Especialmente quando ela se destapa
mais. Eu sou atento a essas coisas.”
Franzi o sobrolho,
lendo aquilo mais do que uma vez para tentar assimilar bem aquela afirmação.
Ele... Lembrava-se que ela tinha idade para ser minha mãe, praticamente, certo?
Ele estava a ver coisas onde elas não existiam... Certo?
“Talvez te tenha escapado um pormenor importante, senhor
espertalhão... Aliás, dois ou três. Um, ela é nossa treinadora. Dois, ela tem
praticamente idade para ser nossa mãe. Três, ela é CASADA. Com um tipo que me
irrita e que eu não suporto ver à frente, mas ainda assim é casada. Portanto,
para teu governo, não. Não tenho olhado mais para ela do que o normal, nada tem
fugido ao normal, porque simplesmente eu não sou como tu... Não ligo a esse
tipo de coisas. Espero que estejamos entendidos.”
Suspirei. De facto...
As coisas que aquele idiota daquele Tatsuya dizia não tinham qualquer espécie
de nexo para mim, não me entravam na cabeça. Ah, mas eu sabia bem aquilo que
ele estava a tentar fazer... Ele estava a tentar aplicar-me uma lavagem
cerebral, essa era a ideia, e ela não me agradava nem um bocadinho! »
Durante anos, eu ignorara aquela conversa. Aquelas insinuações
que ele havia feito, porque elas me pareciam tão descabidas, tão
despropositadas, que eu quase me esquecera por completo de qualquer uma delas.
Ele fazia tudo para me picar, desde sempre. O fantástico é que agia sempre de
forma a que toda a gente pensasse que era exactamente o contrário. Era o típico
“lobo em pele de cordeiro”, que parecia santo aos olhos de cada pessoa.
Porque, lá está, ninguém o conhecia como eu...
... E a Alex.
Beijei-a na testa, suspirando profundamente, após voltar a
inalar aquele perfume dos seus cabelos, ainda espalhados pelo meu peito. A
única coisa que me deixava meio parvo da cabeça relativamente àquela história
toda, era como eu havia sido capaz de ignorar o que verdadeiramente sentia por
ela, ao longo de tanto tempo. Isso sim, deixava-me puto. Porque aquela podia
não ter sido a primeira vez. Talvez fosse só... Uma atracção, talvez não
passasse disso mesmo. No entanto, podíamos ter estado juntos antes, se eu lhe
tivesse dito. Se ao menos tivesse demonstrado antes as minhas intenções. Mesmo
que... Depois não desse em nada. Mesmo que ela não quisesse mais, pelo menos...
Eu podia arriscar. Podia, ao menos, tentar, não?
- Hmmm... Estou esfomeada...
Ri-me um pouco, sorrindo meio de lado ao acariciar mais os
seus cabelos, quando ela praticamente se sentou na cama, meio inclinada na
minha direcção, para me conseguir encarar.
- O jantar já deve estar frio.
Ela encolheu os ombros, com um suspiro, mas meio a rir-se
também.
- É para isso que serve um micro-ondas – limitou-se a
responder. Deixei a minha mão descer-lhe pelo rosto através da zona das
bochechas, o polegar roçando pelos seus lábios, enquanto eu somente os fixava,
não conseguindo resistir a morder os meus.
Ela... Tinha, ao
menos, ideia do quanto era capaz de me hipnotizar?
- És... A mulher mais linda
que eu já vi.
A expressão dela seguiu a minha. O riso parou. Encarou-me já
sem ele, ainda aquele sorriso esbelto parado nos seus lábios quando ela corou e
desviou o olhar.
- Não sou nada... Tu é que és um tigre graxista.
Arqueei as sobrancelhas, sempre a fixar-lhe o rosto.
- “Tigre”?
Ela bateu-me no ombro, antes de voltar a deitar a cabeça no
meu peito. Eu senti-o novamente mais quente, o coração batendo um pouco mais
acelerado com a proximidade que ela lhe tinha.
- É assim que te imagino. Como... Um enorme tigre vermelho –
disse, encolhendo os ombros – Tens... Uma aura assustadora de felino feroz em
certas e determinadas situações.
Enrosquei-a, uma vez mais, nos meus braços, envolvendo-a por
completo pela cintura. Acho que... Percebia onde ela tencionava chegar. Tinha
notado, nos meus devaneios sobre aquelas duas horas, algures a voz dela a
chamar-me aquilo enquanto... Nós...
Bem...
- Eu... Gosto de ser o teu tigre. Se quiseres... Posso
sê-lo... A vida toda.
O silêncio inundou o quarto pelos minutos seguintes. Nenhum
de nós foi capaz de falar durante esse tempo, o clima parecia ter ficado meio
estranho, após eu ter mencionado aquelas palavras. Talvez... Talvez ela se
estivesse a sentir desconfortável com elas. Talvez não soubesse o que
responder-me, ou simplesmente... Talvez ela não... Quisesse. Todas as hipóteses
tinham de ser postas em cima da mesa. Qualquer uma delas era válida e eu... Eu
só queria...
Fui para falar, quando ela se levantou. Voltei a fechar a
boca, somente a encarar-lhe a figura. Só o poder fixar-lhe a pele suave das
costas assim, chegava para ter vontade de alcançá-la, tocar-lhe de novo. Não
era errado... Eu desejar uma resposta, pois não?
Eu tinha-lhe, praticamente, aberto o meu coração. Era de
esperar que, pelo menos, eu tivesse o direito de ouvir alguma coisa, nem que
fosse um “não” redondo.
Alex...
- Vamos aquecer o jantar – foi a única coisa que ela disse
quando parou à porta, a encarar-me. Aquele sorriso voltou-lhe aos lábios depois,
como antes – Algo me diz que estás mesmo a precisar de recuperar as forças...
Ficas sempre meio poético a falar
quando tens fome.
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