One-Shot | Winter Cup

em sexta-feira, janeiro 20 |

Título: Winter Cup
Escrita por: #SahhChan


Dados do Projecto
Iniciado em: 20/09/2016
Finalizada em: 22/09/2016
Idioma: Português
Categorias: Anime & Mangá
Sub-Categorias: Kuroko no Basuke
Personagens: Alexandra Garcia, Hyuuga Junpei, Kagami Taiga

Classificação: +18
Géneros: Hentai, Romance, Shounen
Avisos: Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Spoilers

Aviso Legal:
Os personagens encontrados nesta história não me pertencem, mas aos respectivos autores e criadores dos mesmos. Os eventuais personagens originais desta história são propriedade minha. História sem fins lucrativos criada de fã e para fã.

Notas da Autora:
Esta One-Shot foi escrita em Português de Portugal.
Está a ser postada em sites do género (Spirit Fanfics e Nyah! Fanfiction), nos quais tenho um perfil público.
Todas as personagens usadas e/ou mencionadas, bem como parte da história usada na Shot, pertencem a Sawako Hirabayashi, autor do Manga "Kuroko no Basket".


Sinopse:
A Seirin tinha conseguido o seu principal objectivo: Alcançar um lugar na "Winter Cup". 
Mas antes do que fosse, antes de qualquer partida ou antes de simplesmente conseguir tornar-se o melhor jogador do Japão, Kagami devia a si mesmo um último confronto: Um confronto entre si próprio e os seus sentimentos.




Capítulo Único

Bati com a porta a toda a força assim que pus os pés dentro de casa. Aos poucos, despi o casaco e fui tirando a t-shirt, nem me importando de deixar tudo espalhado em cima do sofá, sobre o saco com os livros e as coisas que tinha levado naquele dia. Para dizer a verdade eu... Estava exausto. Dava tudo por um banho e, em seguida, meter-me na cama para poder dormir até mais não poder, noite dentro. Com o stress dos jogos, o cansaço tinha-se acumulado mas eu tinha de confessar... Não era isso que me tirava o entusiasmo para os ir enfrentando, um a um. Era sim isso que me levava todos os dias àquele lugar desde que a Winter Cup tinha começado. E era isso que me fazia ter vontade de continuar a vencê-los.

Tirei o que tinha preparado para o jantar daquele dia do frigorífico, começando a organizar as coisas no balcão da cozinha, depois de pôr o avental. Acendi um lume e fui arranjando cada um dos pedaços de carne, já tão habituado a fazer aquela porção para dois que já nem me era assim tão estranho.

Ela odiava cozinhar... Uma das coisas que eu tinha de ter assente de cada vez que nos víamos ou, no caso, ela estava em minha casa, era precisamente o facto de ter de ser eu a providenciar alguma coisa à hora das refeições pois, caso contrário, a solução dela seria rápida, simples e tão distante como um “telefonema expresso” para a pizzaria/hamburgueria da zona. É... Já sabia com quem tinha apanhado o tique da comida de plástico.

Apaguei o lume, preparando os pratos na mesa, olhando para o relógio para conferir as horas. Já não era exatamente cedo mas, se me despachasse, ainda teria tempo de tomar um bom banho antes de ela voltar para casa. Isto partindo do princípio que ela voltava. Com a Alex era sempre tudo demasiado imprevisível. Mas eu contava que, pelo menos, ela voltasse ali nem que fosse só para dizer adeus. Se bem que, o facto de ela não ficar para o resto do campeonato me deixava demasiado puto, sinceramente falando. Porque eu sabia que... Se tivesse sido ele a vencer... Ela iria ficar. Seguramente. Eu tinha a certeza absoluta. E isso... Mexia-me com as entranhas de uma maneira que eu não conseguia controlar. Uma maneira que me dava vontade de agarrar na primeira coisa que apanhasse à mão e parti-la até a desfazer em pó. Uma maneira que... Eu... Ahh, fodasse, como se fosse...!

Despachei o banho bem rápido, enrolando depois a toalha na cintura ao sair de debaixo do chuveiro. Não me limpei imediatamente, tinha o hábito estúpido de deixar cada gota da água secar-me na pele depois do duche, nem me fazia muita confusão porque já estava mais do que habituado a transpirar bastante durante os jogos e assim... Passei só uma toalha mais pequena nos cabelos para não os deixar tão ensopados e saí para o corredor, ligando a aparelhagem com um som mediano ao passar pela sala em direcção ao quarto. Estava a passar aquela música de novo mas nem dei grande importância. Era somente para tentar que a cabeça me saísse dali por um bocado. Só isso já me era suficiente. Já chegava para parar de ficar completamente obcecado com aquilo.

Tinha de falar com ela. Falar com ela a sério. De verdade. Tinha a impressão de que tinha ficado algo por dizer naquela altura e... Sei lá... Não queria que ela ficasse com a ideia errada acerca das coisas. Eu tinha de lhe explicar as minhas razões. Simplesmente não podia arranjar uma briga com aquele paspalho de uma figa...! Podiam haver consequências graves e... Além disso... Nas próprias palavras dela, ela “sabia virar-se”, certo? Mas o factor principal do assunto era que o Tatsuya, por sua vez, tinha cagado de alto nisso. Tinha, inclusivé, ficado bem marcado à conta de o ter feito porque aquele filho de uma mãe irritante não se ralara nem um pouco de partir para a violência com ele. Eu tinha tido as minhas razões. Não podia arranjar problemas para todos por me meter em problemas. Ela não quereria isso... Certo? Ou... Isso fazia de mim um cobarde, afinal?

Antes, normalmente, nós tomavamos sempre o partido um do outro. Eternos rivais mas... Ainda assim irmãos. E, desta vez, naquela situação, parecera que eu estava... Na boa para se ele saía dali meio esmurrado ou não. Isso não era bem verdade. Não era que ele não tivesse merecido a lição que levara de todos nós em campo mas... O Haizaki fora longe demais cá fora. Mas mesmo assim... Eu pensara na minha equipa primeiro. Antes de pensar nele... Na Alex... E sentia-me um idiota chapado por ter feito as coisas dessa maneira.

Olhei de relance para o fio com o anel sobre a cómoda do quarto. As palavras do Kuroko vieram-me à cabeça por breves instantes, nos quais o meu pulso conseguiu prensar os contornos do adereço de tanta raiva que eu tinha acumulada por cada uma. Mesmo assim, ele não deixava de ter razão. Se eu queria, de facto, romper relações com o Tatsu... Era eu que tinha de ir lá e fazê-lo. Livrar-me daquilo. Ou estaríamos ligados para sempre. E já haviam demasiados itens a separar-nos. A tornar o nosso laço de irmãos demasiado quebrado para se voltar a colar de volta e reparar as coisas, caco a caco. Aquele Kuroko idiota... Aquele Haizaki de merda... Porque é que ele tinha de me fazer ficar preocupado com ele de novo...?

- Deixar a casa com um cheiro delicioso destes é um pecado capital para quem passa à tua porta ali fora, sabias disso?

Praticamente mandei um salto, olhando para a porta imediatamente assim que a voz surgiu pelo corredor, fora do quarto. Larguei o fio em cima da cómoda novamente, saindo ao pegar na toalha dos cabelos novamente. Fui começando a enxugar os ombros meio à toa. Só porque, se ela me visse naqueles preparos todo molhado, me ia dar na cabeça até não poder mais...

- Cheguei cedo, deu tempo para fazer tudo antes de tomar banho.

- É, já vi que sim – disse ela, simplesmente espreguiçando-se depois de tirar o casaco e colocá-lo sobre as minhas coisas, espalhado no sofá – E calha bem que eu estou esfomeada!

Suspirei, parando de me tentar enxugar – ela já não devia dar muito crédito a isso, eu não tinha culpa se não chegava a todo o lado para me limpar canto a canto – e comecei a pegar na mala e no casaco.

- Fazes o favor de não deixar as tuas roupas espalhadas em cima do sofá, há cabides no armário do quarto.

Ela riu-se, acabando por se aproximar de mim um bocado. Um bocado... Meio perigoso, tendo em conta o ar dela. Porque da Alex nunca ninguém sabia bem o que esperar exatamente...

- Ora... Desde quando te tornaste tão homenzinho, Ta-i-ga?

A minha expressão mudou mal o indicador e o polegar dela me procuraram o nariz e começaram a apertar-me as bochechas. Eu conhecia bem aquela mania dela. E, sinceramente, com o passar dos anos, ela tornara-se irritante demais para mim. Eu já não era um miúdo. No entanto, seguramente, continuava a ferver em pouca água, se é que não fervia mais e mais depressa do que quando o era. Será que ela não percebia?

Afastei a cara do alcance das mãos dela.

- Pára com essa merda, anda!

- Hum, deixa de ser chato, tenho saudades das tuas bochechas...!

- Ah, cala a boca...!

- Não tenho culpa, eu gosto delas. Sempre gostei.

- Sempre gostaste era de embirrar comigo – atirei simplesmente como se isso chegasse para encerrar completamente o assunto. Sentia algo bater bem mais forte dentro do peito num ápice, como sempre acontecia quando me passava com alguma coisa ou uma adernalina corrente me ia enchendo aos poucos, por algo que eu ansiasse ou do qual tivesse... Receio. Sim. Não era medo, era receio. E também não era bem receio, era mais... Mais... Mais nada... Certo.

- Muito mesmo!

- É, engraçado, com o Tatsu nunca fazias isso, com ele era sempre tudo na boa!

Calei-me dessa vez ao notar a expressão dela alterar-se ligeiramente. O sorriso ainda se lhe mostrava nos lábios, embora parecesse um pouco mais tenso, assim de repente.

- Não leves a mal mas... O Tatsuya sempre foi mais maduro do que tu. Não se irrita com qualquer coisinha como tu. Não é culpa minha se fazes despertar a mamã que há em mim.

- Tu NÃO ÉS minha MÃE! – gritei-lhe dessa vez, fixando os olhos dela mesmo danado quando o fiz. A expressão dela alterou-se, uma vez mais. O sorriso tinha-lhe desaparecido do rosto finalmente.

Eu nem sei porque... Porque raio de merda tinha reagido daquela maneira. Na minha cabeça, as coisas faziam todo o sentido mas... Sei lá. Ela acompanhara mais o meu crescimento do que a minha própria mãe fizera, nisso tínhamos de ser realistas. Ela estivera sempre lá. Nos primeiros treinos, nos primeiros jogos... Nas primeiras brincadeiras... Tinha feito parte dos primeiros sonhos que eu tivera quando era mais pequeno. Tinha sido a melhor amiga, fora o Tatsu, que eu tinha tido alguma vez. Tinha-me ensinado inúmeras coisas. Tinha... Tinha sido... O meu primeiro... A primeira... Fodasse, eu tinha feito merda da grossa, não tinha?

- Espera...

Agarrei o braço dela, puxando-a para mim, conseguindo sentir o quanto ele tremia na minha mão. O quanto... Ela tremia assim perto do meu corpo. Deixei-me olhar nos seus olhos de novo, as palavras querendo sair mas a estúpida da minha garganta orgulhosa esforçando-se tanto para as poder conter ali trancadas que só a ideia chegava a doer. Ardia. Fodasse, eu...

- Vamos comer – ao contrário do que esperei, a voz dela não soava tão dura como imaginei que soasse, ao ouvir aquilo. Mesmo assim, os olhos dela forçaram-se a fugir dos meus, embora estivessemos tão perto como... Já não estávamos desde aquele dia. Quando eu regressara aos Estados Unidos há uns meses – É melhor assim.

- Não tenho fome agora.

Ela arqueou as sobrancelhas, olhando-me dessa vez.

- Tu a não teres fome? Isso é um achado, de facto...

Apertei mais o braço dela, puxando-a mais para mim.

- Eu quero falar contigo, Alex.

- Não precisamos de falar, já disseste tudo o que era preciso.

- Não, não disse.

- Disseste sim, e acredita, eu percebi completamente a mensagem que tencionavas...!

Calei-a no momento em que os meus lábios se prensaram nos dela, as minhas mãos afrouxando-lhe o aperto que mantinham no seu braço, e dirigindo-se à cintura dela para a puxar um pouco mais para mim. Tinhamos... Combinado não pensar mais no assunto depois daquilo. Tinha sido apenas uma vez e... Não era suposto voltar a acontecer. Eu sabia bem que não, só que... Ela... Ela era a única mulher por quem eu conseguia sentir algo assim. Ela... Levava-me por caminhos que eu nem nunca sonhara visitar quanto mais seguir, e eu... Era... Quente demais. Louco demais.

Fui-nos chegando mais um para o outro, procurando toda a extensão da língua dela com a minha. Deixei que as mãos, aos poucos, vagueassem um pouco mais abaixo da cintura dela, tocando-lhe mais também por sua vez. Não valia a pena certificar-me mais disso... Tentar arranjar justificativas, porque... Eu simplesmente tinha uma espécie de tara pelo corpo dela que... Não me deixava quieto quando a tinha assim. E eu tinha aguentado tempo demais. Tempo demais com ela ali, a provocar-me todos os dias. Fodasse, era cruel... Eu podia ser mais novo do que ela mas... Ainda era homem. E ela mexia comigo como um homem. Não como um miúdo. Eu queria-a naquele momento como um homem. Não como um... Filho da puta... De um miúdo, será que ela não entendia isso?

- Taiga...

Deixei a língua descer-lhe pescoço abaixo, roçando-lhe os dentes pela pele à medida que os meus olhos se iam fechando mais. Merda... Aquilo era tão bom...

- Quero-te...

Fi-la subir para o meu colo, as mãos mais prensadas nas nádegas dela para manter-nos naquela posição, enquanto atravessava com ela o corredor. Mordi-me todo assim que senti as unhas dela espetarem-se a fundo nas minhas costas, os arranhões tão familiares de que eu me lembrava prestes a deixarem a minha pele em carne viva novamente. Assim... Assim mesmo, eu adorava assim...! Sabia que era suposto ter esquecido o assunto... Mas era difícil fazê-lo quando ela me atraía tanto. Quando tudo o que aquela mulher me fazia... Era como se soubesse perfeitamente como o fazer para me deixar doido. E eu só tinha vontade de prolongar ainda mais a sensação.

Quando as costas dela encontraram o colchão da minha cama já a toalha que eu trazia enrolada na cintura se tinha perdido pelo caminho. As minhas mãos iam procurando desesperadamente a cintura dela, a pele quente e lisa da barriga, os contornos das coxas e o interior delas de caminho. Consegui livrar-me daqueles calções que ela trazia, desapertando aquele botão estúpido que me impedia a passagem para tentar um maior contacto, enquanto os meus beijos lhe voltavam à boca. Porque eu... Tinha demasiadas saudades da boca dela. Daquele cheiro que me chegava às narinas a cada vez que estava demasiado perto. Do toque daquela pele que, tão arrepiada como a minha, chegava a tremer à passagem dos meus lábios e das minhas mãos, enquanto a acariciava cada vez com mais desejo. Mais luxúria. Daquela maneira que eu sabia que ela adorava. Que a fazia gemer nos meus braços como ela estava a fazer agora.

- Hmm, Taiga... – praticamente estremeci ao sentir os dentes dela provocarem a minha orelha, a forma como ela dizia aquilo baixinho ali bem perto quase a tirar-me o nexo das coisas naquele momento – Eu não consigo esperar mais...

- Anda cá...

Livrei-a da blusa em seguida, beijando cada centímetro daquele corpo enquanto as mãos faziam o seu trabalho nos pontos mais sensíveis que iam apanhando pelo caminho. Não demorei muito mais a fazer o mesmo com a última peça de roupa que a cobria, destapando os seios enormes dela para lhes poder finalmente tocar. Aos poucos, fui-me apoderando do resto, tremendo como um louco à medida que a crise de adernalina se ia intensificando cada vez mais, antes da minha boca tomar o lugar da mão que antes a acariciara naquele volume delicioso do peito dela. Mais do que loucura, mais do que desejo, eu... Eu queria mesmo aquela mulher. De verdade. De uma forma que ela talvez nunca... Percebesse sequer. Queria... Fazê-la ir ao céu várias vezes, amá-la naquela cama várias vezes. Porque... Para mim fazia sentido ser assim. Claro que eu não era um miúdo. Já lho tinha mostrado antes. Já lhe tinha provado que, nas coisas certas, eu sabia fazê-la gostar. Sabia ser homem o suficiente para ela.

- Tão bom, Taiga...

Os gemidos dela iam enchendo o ar, o tecto, o chão, as paredes à nossa volta. Faziam eco aos meus ouvidos de uma forma que me fazia não ser capaz de parar, que me levava apenas a tocar-lhe mais um pouco. Ela gostava. Eu sabia que ela gostava. E ia dar-lhe tudo o que ela queria, a noite dentro se fosse preciso. Até já ser impossível fazer um único movimento e ter obrigatoriamente de parar por conta disso. Ia garantir que ela nunca mais se esqueceria daquilo. De mim.

- Deixas-me tão louco...

- E tu a mim... Eu quero-te, tigre...

Tigre... Eu ainda me lembrava tão bem da primeira vez que ela me tinha chamado aquilo. E, curiosamente... Continuava a inchar-me o ego e a saber-me tão bem como quando ela tinha começado com aquela mania. Porque... Fodasse... Ser um tigre na cama com ela sabia bem demais!

- Alex...

Mordi o lábio ao sentir as pernas dela rodearem-me a cintura daquela vez, pra me fazerem chegar mais perto. Só assim... Até aos poucos ir voltando a descobrir aquele quente dela de uma forma que eu não conseguia fazer desde há meses. Por muito que... Eu devesse ter esquecido. Ter o corpo dela para mim como estava a fazer compensava qualquer erro. Qualquer. Fazê-la minha como estava a fazer... Compensava qualquer coisa que ela me pudesse dizer depois. Não queria saber se era errado. Se ela era uma mulher feita, se era a minha professora de basquetebol desde que me lembrava de começar a jogar decentemente... Era a única mulher que eu queria. A única em quem eu pensava. A única que eu desejava na minha cama todas as manhãs. A única que eu...

- Isso... Hmm, tão bom...

Era. Era ótimo. E eu estava a ficar louco já. De todas as vezes que me imaginara naquele tipo de situações, nenhuma chegava aos pés daquela demência toda. Nem me fazia sentir, simultaneamente, um sortudo e um otário, exatamente na mesma medida final como aquela. Eu tinha seguido aquela americana loira linda, de olhos azuis, uma vida inteira. Tinha sido aluno dela, ido ao casamento dela. Tinha, inclusivé, procurado briga com o ex-marido dela quando soube que eles se iriam divorciar, uns anos mais tarde. Tinha sido como um filho para ela por nos conhecermos a esse ponto, como ela mesma dizia várias vezes. E agora era tão estúpido como o que era possível porque só queria provar-lhe que não era dessa forma que eu passara a vê-la, com o decorrer dos anos. Ela não era minha mãe, não era uma imagem materna que eu pretendia dela. Não era dessa forma que a via. Eu via-a... Como minha amante. Apenas isso, naquele momento. E eu sabia bem... Que por mais que ela escondesse, nem que fosse um pouquinho só, isso era mútuo, que porra!

- Fodasse... Alex...

A boca dela acabou por calar a minha, enquanto ambas se iam devorando um pouco mais, completamente espremidas entre os beijos gulosos. Não conseguia pensar, simplesmente... Ela afastava de mim qualquer fio de raciocínio, era impossível pegar de que trecho fosse para traçar ao menos uma pequena linha de pensamento. Nada. A minha mente... Ia ficando apenas em branco enquanto me mexia dentro dela, cada estocada sendo mais forte que a anterior e fazendo os nossos gemidos em conjunto aumentarem um pouco mais de tom, entre o toque das nossas bocas. Não demorou muito até o primeiro orgasmo chegar...


***

Olhava para o tecto, estafado, ainda a arfar. Ainda sentia a mão dela vaguear-me pelo peito, a perna dela roçando-se na minha para manter os nossos corpos tão juntos como tinham estado todo aquele tempo. Eram perto de 4:00 da manhã... Só as luzes dos carros a passar faziam o quarto ficar mais iluminado naquela altura, uma vez que tínhamos acabado por apagar até mesmo os candeeiros, ao fim de umas horas. Eu estava tão morto dos meus braços... Aguentara o máximo de tempo possível mas acabara por sucumbir, exausto, quando os músculos se queixaram depois de uma data de tempo de acaba e recomeça de novo. Agora, sentia o peito queimar novamente enquanto a mão dela procurava provocar-me... Uma vez mais. Aquela mulher ia ser a minha ruína. E eu ia ter tanto, mas tanto, prazer nisso.

- Hum... Cansado, é?

Sorri-lhe meio de lado, deixando-me fechar os olhos aos poucos, fazendo o meu braço rodeá-la pelos dela para trazê-la mais para mim. Acariciei-lhe a pele do ombro ao aninhá-la.

- Um bocado – confessei, ofegando ainda em algumas golfadas de ar que conseguia manter ao ritmo sempre acelerado do coração dentro do peito – A culpa é tua...

- Minha? – ela riu-se antes de se virar na cama, as costas fazendo tensão de se encostarem ao meu corpo. Acabei por fazer o mesmo, permitindo que os meus braços lhe rodeassem a cintura e a trouxessem mais na minha direcção. Isso... Sabia tão bem assim... – Eu não sou culpada de nada. Se não tens energia suficiente para aguentar comigo, é porque não treinas que chegue.

- Achas que treino pouco?! – perguntei-lhe meio chocado, tentando olhá-la dessa vez. A forma como ela me encarou disse-me imediatamente que ela não... Se estava a referir a... Aa... Basquet? – Aa... Quero dizer...

- Quem é a galdéria, já agora?

Olhei-a boquiaberto.

- N-...! Não há galdéria nenhuma! – limitei-me a responder, soltando-a um bocado – E mesmo que houvesse... Tinha perdido o interesse pra mim. Eu não quero outra mulher que não tu.

Okay... Eu confessava. Talvez tivesse falado demais, desta vez. Principalmente ao notar a reacção dela quando eu disse aquelas palavras... Percebia que tinha, de facto, alongado o assunto mais que a conta. Pelo menos... Na visão dela.

Senti-a afastar-se... Percebi que ela tentou fazê-lo não muito de repente, talvez numa aposta sã de que eu não iria levar tão a peito quando ela o fizesse. Vi aquele sorriso de quem não sabe bem o que dizer em resposta voltar a aparecer-lhe nos lábios, quando ela se sentou na cama, tão sendo ela como já lhe era habitual. Espreguiçou-se e fixou o espelho da cómoda depois. Não se levantou dali. E, nesse momento, eu soube... Eu soube que... Devia ter, obviamente, ficado de boca fechada.

- É, nós damo-nos bem na cama – ouvi-a comentar, antes de erguer o corpo dali, procurando depois o meu roupão no armário. Tirou-o do cabide, enfiando-o pelos braços, olhando-me da mesma forma que encarara o espelho, nem dois minutos antes – É um facto. Somos... Bastante compatíveis nesse aspecto.

Arqueei uma sobrancelha, deixando-me sentar aos poucos na cama. Não parei de a encarar.

- A sério que vais dizer-me isso dessa forma?

Ela suspirou.

- E o que queres que faça mais, Taiga? – questionou, fixando-me ainda. Abracei-me aos joelhos, olhando-a da mesma forma.

- O que achas? Que é que te parece?

- Não sei. Diz-me tu.

Abri a gaveta da roupa interior, tirando uns boxers lá de dentro, ao mesmo tempo que ia ponderando na melhor forma de responder àquilo sem fazer com que ela simplesmente me virasse as costas por ter, em definitivo, perdido a paciência para aturar as minhas paranóias relativamente àquele pequeno itenzinho. Enfiei-os depois, levantando-me e ficando a encará-la, uma vez mais.

Não valia a pena falar do que eu estava a remoer. Eu sabia que não serviria de porcaria nenhuma... Talvez fosse apenas isso mesmo, apenas o darmo-nos bem na cama. Talvez fosse apenas... Sexo entre nós. Talvez eu estivesse a ver merdas onde elas não existiam e aquele clima que eu notava entre mim e ela, de facto apenas existisse dentro da minha cabeça. Talvez aquele desejo que eu sentia por ela fosse só... Imaginação. Uma coisa do momento e que não tinha qualquer razão de ser. E eu era um tremendo de um otário porque... Tinha mesmo pensado que aquele talvez pudesse ser real, algum dia. Que ela... Me viesse a dar uma hipótese para tentarmos algo mais. Mas nada feito.

Olhei para o relógio, endireitando os ombros quando o fiz. Senti a expressão do meu rosto endurecer claramente quando o fiz. Levantei o queixo.

- Vais ficar para ver o resto do campeonato?

Ela piscou umas duas vezes, um ar de confusão tremendo estampado no rosto.

- O quê...? É isso que queres, assim de repente? – perguntou. Ela tinha... Percebido outra coisa, eu sabia-o bem. Ela não era burra. Tinha percebido precisamente o que eu queria dizer. Só não... Tencionava alongar-se mais, deixar o assunto ganhar mais magnitude do que eu já o deixara ir ganhando ao longo daquele tempo. Daquela noite. Mas sim, eu ia mudar de assunto. Era sangue frio que ela queria, era isso que teria. Só... Eu estava tão farto...

Encolhi os ombros.

- Não mando na tua vida – limitei-me a dizer-lhe – Fazes o que te der na telha.

Suspirei, acabando por passar por ela em direcção à porta.

- Eu... Não vou poder ficar. Tenho de voltar para os Estados Unidos, apanho o voo desta tarde. Já marquei a viagem e tudo.

Parei-me, antes de dar mais um passo sequer. Aquele mesmo sorriso forçado do qual eu me lembrava de todas as vezes que algo não corria como previsto, que algo saía da linha das minhas aspirações mais fortes, chegou-me aos lábios finalmente. Não a encarei novamente, dessa vez. Engoli apenas em seco, antes de conseguir falar. Era algo que me estava atravessado na garganta já há bastante tempo. E, sinceramente, não estava nem aí para se ela daria importância demais ao comentário ou não.

- Tenho a certeza de que... Se tivesse sido a Yosen a vencer aquele jogo... Ficarias para vê-lo jogar outra vez.

Saí do quarto, cerrando por completo os dentes para não cair no erro de continuar a falar. Ela não me seguiu dessa vez, o que queria dizer que... Pelo visto, eu tinha razão no que tinha dito. Ela também tinha a consciência de que era verdade. Um dia, mais cedo ou mais tarde, eu até devia vir a descobrir que... Sei lá... Não era comigo que ela o fazia. E... Merda...! Merda, ela... Porque é que eu... Me sentia tão idiota agora?


***

Fixava o mesmo ponto há mais de meia hora, sentado a um canto do balneário. Ainda ninguém tinha chegado, estavam todos na reunião sobre o jogo anterior. Eu tinha consciência de que tinha recebido uma mensagem do capitão mas, sinceramente, não tivera a mínima vontade de meter lá os pés. Tinha perfeita consciência de que isso me colocaria em maus lençóis, mas... Sei lá, fodasse... Só queria estar sozinho. Poder martirizar-me à vontade durante nem que fosse só uma hora. Comigo mesmo. Não era normal em mim perder tempo com isso. Só que, desta vez, ao menos... Eu precisava de um tempo. Longe do basquetebol... Longe do campo... Longe da equipa... Longe de toda a merda que me lembrasse por culpa de quem eu estava ali, naquele sítio. Longe de tudo o que me lembrasse o quanto eu tinha sido um burro. Porque eu tinha definitivamente sido um.

Levantei-me passado um pouco, dando uma volta completa a toda a extensão da divisão ao meu redor. Tornei depois a parar no mesmo local... Ainda respirei fundo uma vez... Antes de um punho fechado me voar na direcção do cacifo que estava disposto mais acima, o que acabou por não fazer grande mossa, por muito puto da vida que eu estivesse. Mas acabou, sim, por fazer o barulho suficiente para eu acabar por ser encontrado ali dentro.

- Achas que estamos em maré proveitosa para tirar férias, Kagami?!

Endireitei-me, levantando a cabeça no mesmo momento em que o ouvi. Para não variar, a voz estridente dele enchia praticamente o pavilhão inteiro, mesmo estando nós ali naquela pequena área cercada por cacifos. Naquele lugar, a voz do capitão Hyuuga conseguia soar ainda mais alto e descontente do que até ali já lhe era costume, quando ele estava passado ou nervoso com alguma coisa.

- Peço desculpa...

Como também já lhe era normal fazer, ele ignorou-me, fazendo o sermão prosseguir.

- Não é por já termos jogado contra a Kaijou que podes dar-te ao luxo de faltar à reunião. Houve coisas importantes a serem discutidas ali. Coisas que devias ter ouvido porque o facto de seres o Às da equipa não te dá benefícios relativamente a falta de assiduidade por aqui! Temos uma taça para ganhar ou já se te varreu isso da ideia?!

Suspirei, baixinho.

- Não volta a acontecer, eu só...

- Podes crer que não volta! – os gritos dele aumentaram um pouco mais de volume, gradualmente – Porque se não estás interessado, eu tenho mais jogadores no banco desertos de entrar e fazerem algo para levar-nos à vitória, mas tanto eu como a Riko continuamos a apostar em ti. E nem penses que vais abandonar o barco como um...

- EU JÁ PERCEBI!

Ele calou-se dessa vez. Por minha conta, limitei-me a engolir em seco, desviando o olhar depois de ter gritado... Pela primeira vez, bem mais alto do que ele, bem mais possesso do que ele... Mesmo ele ficou tão espantado com o facto de eu ter levantado a voz que me encarou muito fixamente, sem dizer nada. Quanto a mim, baixei a voz depois.

- Eu... Preciso de... Estar sozinho, está bem? – perguntei apenas. Cerrei um pouco mais os punhos, os olhos presos no chão, fixando novamente um ponto aleatório que eu não tencionava largar tão cedo – Eu vou aparecer na merda do jogo... Eu vou derrotar o Kise e a Kaijou em peso, eu vou fazer algo que se veja pela equipa e nós vamos chegar à final e ganhar a porcaria da taça... Mas agora só quero estar sozinho. Pode ser?

Ouvi-o soltar um suspiro quando ele se endireitou melhor, levantando de novo o queixo para dar aquela atitude de “tipo mais velho e responsável” que eu tão bem lhe conhecia. Em silêncio, passou por mim e deu a mesma volta completa àquela divisão que eu havia dado anteriormente, como se ponderasse em alguma coisa. Não disse ao menos uma palavra até parar ao meu lado, virado de frente para a porta como se fosse sair por ela, a mão sobre o meu ombro, como se... Quisesse...

- Nós vamos ver o próximo jogo – disse somente, ainda sem me encarar nem durante breves segundos – Vamos observar com atenção os nossos dois possíveis futuros adversários para eu e a Riko podermos traçar uma estratégia de jogo para a final. Tanto a Shutoku como a Rakuzan são poderosas, temos de saber com o que estamos, de facto, a lidar.

Encarou-me, finalmente, quando parou de falar. Acenou, simplesmente. No entanto, eu podia jurar ter-lhe visto um vestígio de sorriso nos lábios quando ele virou o rosto novamente para o lado oposto do alcance dos meus olhos.

- Tens uma hora. Usa esse tempo de maneira a que não te arrependas de voltar a entrar aqui.

Fitei-o praticamente a espremer os meus miolos, tentando perceber de que raio estaria ele a falar, porque... Além de aquela não ser, de todo, uma linguagem típica dele – esperá-la-ia, talvez, do Izuki-senpai ou... Do Kuroko, mas dele não –, ele parecia... Parecia não... Querer dizer nada em concreto, mas ao mesmo tempo... Ser demasiado claro nas palavras que tinha usado.

- Como... Como assim...?

- Vai ao menos despedir-te dela. É tua sensei, ou não? – limitou-se ele a dizer, não ficando para obter resposta e saindo porta fora, sem olhar para trás, deixando-me com cara de parvo a olhar para ele, a pensar como... Raio ele... Como raio é que ele sabia que...? Pior ainda... Como raio é que ele sabia que... Eu estava assim porque...?

Merda, merda, merda!

Eu era assim tão óbvio, era isso?! Notava-se assim tanto que... Era por causa dela?


***

As ruas ao redor do aeroporto estavam apinhadas àquela hora. Era quase impossível chegar lá sem apanhar uma fila de trânsito ou, simplesmente, ter de caminhar dentro das faixas da via, por o passeio ter demasiada gente a vir na direcção contrária. Ainda assim, consegui acelerar sempre que havia uma brecha, acabando por nem demorar tanto tempo a entrar no edifício. Pior ainda do que no exterior.

Atravessei o átrio, tentando alcançar rapidamente as escadas rolantes, mas foi praticamente uma dor de cabeça conseguir passar, devido a tanta gente. Os voos mais limitados deviam estar a partir ou a chegar e, devido ainda a ser uma época de festas, era mais díficil controlar aquela loucura nas entradas e saídas do país a toda a hora. Ali dentro, e naquele horário, o mais comum era achar apenas o verdadeiro caos em cada corredor. Mas não era isso que me faria voltar para trás, agora que já estava tão perto.

Consegui andar um pouco mais depressa à saída das escadas, procurando o painel com os horários dos aviões que iam partir ao longo da próxima hora. Numa esquina acabei por encontrá-lo, examinando-o o mais atentamente que consegui, apesar de a dose familiar de adernalina já me fazer tremer por todos os lados. O próximo voo saía dali a 10 minutos... Mas não era o dela. Esse, descobri-o umas linhas acima. Olhei para o relógio. Faltavam 40 minutos... Tinha a certeza que ela ainda não tinha embarcado.

Procurei os corredores que davam para as portas de embarque, tentando depois achar aquela em que, ao certo, ela estaria, buscando os números que tinha visto no painel. Não que aquele cenário me fosse desconhecido, eu estava mais do que familiarizado com o lugar, o problema era aquele nervosismo idiota toldar-me demais o raciocínio. Eu... Tinha de arranjar uma maneira. Tinha de haver uma forma de ainda poder vê-la. De poder... Explicar. Pedir-lhe desculpas. Dizer-lhe que esquecesse porque... Eu preferia não ter nada dela naquele sentido do que perdê-la por completo. Queria vê-la ao menos... Mais uma vez antes de... Daquele jogo. Só assim ia ser capaz de não me espatifar completamente quando entrasse em campo.

Vá lá... Eu preciso de... Falar com ela... Vá lá...

Praticamente dei corda às solas a todo o gás quando encontrei a porta 55 lá ao fundo. Nem durante o último jogo me recordava de ter corrido tanto e... Fodasse, aquilo ia ser ótimo para a minha resistência, tendo em conta que precisava de estar a 100% dali a menos de 60 minutos. Merda... Eu só tinha de... Lá chegar. Era imperativo que eu conseguisse... Chegar...

O vestígio dos cabelos dela foi a primeira coisa que o meu olhar procurou. Não foi tão complicado assim descobri-los. Ela dava demasiado nas vistas. Fosse pelo tom da pele mais descoberta, pelo loiro chamativo que lhe caía em pano pelas costas, ou até mesmo pela forma como se vestia, não se dando ao trabalho de tapar demais certas zonas do corpo, apesar de estar num país que dava tanta importância a isso. Não haviam mulheres daquele tipo no Japão. Talvez fosse precisamente por conta disso que ela me era tão chamativa. Que quando... Eu a tinha à minha frente... Era tão difícil desviar o olhar.

- Alex!

Corri direito a ela até ser capaz de a alcançar, ainda tendo tempo de notar ao longe quando ela se voltou e me viu. Parei somente depois ao aproximar-me o suficiente. Não parei de a encarar, ainda ofegante da correria, respirando fundo para recuperar algumas forças.

- O que é que...? Não tinhas um jogo?

Suspirei, aproximando-me depois mais, apenas o suficiente para conseguir fixar-lhe somente aqueles olhos azuis límpidos. Engoli em seco.

- Tenho.

- É a semi-final, Taiga. Tu... Tens de te concentrar nisso. Tens de voltar.

- Eu vou voltar – deixei-me encostar a testa à dela, mordendo o lábio ao de leve quando o fiz – Mas eu... Não consegui deixar... Que...

- Taiga, nós... As coisas não vão mudar – ela olhou-me, também tão perto como eu e... Por alguma razão estúpida... O meu coração quase me saltou do peito quando ela o fez e eu já nem sabia o porquê disso – O que eu disse mantém-se.

Claro... Claro que se mantinha. Eu não esperava mais do que isso. Já tinha perdido as esperanças, eu apenas...

- Eu tinha de... Te ver de novo.

Ela sorriu, desviando os olhos pela primeira vez. Um gesto que, sinceramente e na minha perspectiva, nunca combinara muito com ela. A Alex era de enfrentar as coisas. Ela não deixava nada para trás, nada que precisasse de ser ultrapassado. Só que essa minha ideia, agora, ía um pouco contra... Contra o que se tinha passado e... Eu só precisava de entender o que...

- Sabes que me podes ir visitar sempre que quiseres, não sabes?

... O que fazer. O que dizer. O que... Merda, eu só queria perceber porque é que ela não enfrentava aquele assunto também. O nosso assunto. Nós dois. Porque é que era tão complicado para ela conseguir fazê-lo.

- Sei.

Não consegui não fechar os olhos quando as costas da mão dela me encontraram a bochecha. Aos poucos, a minha respiração ia normalizando, o cansaço deixando de ser tão patente a cada golfada de ar de que eu conseguia usufruir.

- Taiga?

Abri os olhos. A minha língua procurou o meu lábio inferior quando a vi assim tão perto novamente. O brilho que eu via nos dela... Era demasiado convidativo. Mexia comigo. Enchia-me de impulsos idiotas, abrindo-me ao mesmo tempo um buraco no peito que, por muito que eu tentasse, sabia que nunca conseguiria sarar.

Se podia tê-la beijado? Acho que sim. Mas... Não o fiz. Mesmo estando tão perto disso. Tão perto dela. Mesmo... Eu só desejando que os nossos lábios se devorassem como em todas as vezes que se conseguiam tocar. Ela já o tinha dito. Eu já o tinha ouvido, das duas vezes. Se podia tê-la beijado? Podia. Mas isso só serviria para me continuar a enganar a mim próprio. Mas, ainda assim, eu...

Acabei por sorrir-lhe, ao de leve, de lado.

- Eu vou ganhar aquele jogo – disse, optando por sentir-me confiante. Porque pelo menos nisso... Eu sabia que era um Às. Aquela vitória eu podia ter, com ela eu podia sonhar. No final, tinha de haver algo que compensasse aquele buraco. Nem que eu o preenchesse com a bola de basquet como a um cesto, para lhe dar um sentido para ali estar – A Seirin vai vencer a Winter Cup. Nem que isso me mate.

A mão dela subiu do meu rosto para os meus cabelos. Ela olhou-os durante uns instantes como se analisasse a minha altura de repente, o sorriso aumentando um pouco quando ela o fez.

- Não esperava outra coisa de ti. Deixa-me orgulhosa.

Acenei somente, afastando-me depois. Num impulso, ela baixou a minha cabeça, apenas o suficiente para conseguir beijar-me na testa, olhando de novo nos meus olhos. Não demorou muito até se diminuir a distância e os lábios dela encontrarem os meus de vez. E ainda menos para as minhas mãos procurarem a sua cintura para a trazerem mais para os meus braços, por eu não ser capaz de resistir a isso. Por muito que ela me picasse, que me negasse, que me judiasse, que desdenhasse de mim... Isso não mudava o que ela me fazia sentir. A maneira como ela me fazia sentir. O facto de eu a querer perto, de não conseguir evitar tê-la nos meus braços quando a conseguia finalmente alcançar.

Ela tinha razão, davamo-nos bem na cama. Ela tinha toda a razão, não era sério. Mas isso não era capaz de mudar os meus sentimentos.

- Eu amo-te... Desculpa...

Fechei mais os olhos sem evitar outro beijo, prensando mais a boca na dela, procurando-lhe mais o corpo a cada vez que o chegava mais para o meu.

- Última chamada para os passageiros do voo LH 7203, com destino a Boston. Pede-se o favor de se dirigirem às portas de embarque...

Encostei a testa à dela quando lhe senti a mão sobre o meu peito para nos afastar, apenas o suficiente para os nossos lábios se separarem. A mão dela voltou a encontrar-me o rosto, antes de a minha a agarrar, pouco depois.

- Tenho de ir, tigre.

Suspirei, antes de a beijar de novo uma última vez. As nossas mãos foram-se separando à medida que ela se afastava por completo. Ainda lhe acenei até deixar de vê-la, quando ela entrou finalmente na porta de embarque. Eu tinha dito... Eu tinha-me mesmo... Declarado a ela. Mas... Ela nem respondeu. Ou... Ou aquilo que ela me tinha chamado, só por si, já era uma porra de uma resposta? Eu não percebia...

Baixei a mão, devagar. Toda ela tremia, aquele toque suave da sua pele ainda se sentia ao tacto. O perfume ainda me percorria as narinas de lés a lés. As pernas lutavam por se manter naquele lugar, para não cederem à vontade ir atrás dela para a minha boca lhe pedir que ficasse. Porque... Eu ainda precisava dela ali. Mesmo que apenas pelo apoio... Mesmo que só para... Tê-la perto de mim para me felicitar quando eu vencesse.

Virei costas com um suspiro leve. Aos poucos, levantei a cabeça, perscrutando as horas no relógio. Parei depois durante um pouco, virando os olhos para as janelas ao meu lado. Alguns dos aviões viam-se lá fora, os autocarros começavam a levar os passageiros para poderem embarcar finalmente. Algures, num deles, ela iria voltar para os Estados Unidos. Ia estar, novamente, a 10791 quilómetros de mim. A praticamente 13 horas e meia de viagem. Como é que era suposto isso... Dar-me ânimo sequer?

Agora... Eu sabia a resposta a essa pergunta?

Sim, talvez soubesse.

Era relativamente simples. Não era suposto. Era eu que tinha de reunir toda a minha confiança. Era eu que tinha de dar o meu melhor a partir do primeiro momento em que metesse os pés na área de jogo e percebesse que tinha de os ultrapassar a todos para alcançar o meu objectivo. Porque... Eu tinha prometido. A ela. Ao Kuroko, ao capitão, à treinadora... À equipa. Tinha de me recompor. Tinha uma taça para ganhar. Era nisso que me teria de concentrar agora.

Cerrei os punhos, ao voltar a caminhar de novo corredor fora. Que fosse... Quando fosse visitá-la da próxima vez, teria um título nas minhas mãos. O primeiro de vários porque eu ia tornar-me, definitivamente, no melhor jogador do Japão. E isso seria para breve. Eu não tencionava desistir. Não fazia parte dos meus planos. E, talvez, nessa altura eu conseguisse concentrar-me em fazer o possível e o impossível para que ela me visse com outros olhos... E não só como o miúdo que, um dia, tivera o sonho de ser aquilo que ela soubera transformar num Às.

Desci as escadas rolantes, atravessando o átrio no caminho oposto ao que fizera para ali chegar. Dei uma última olhada no relógio da entrada antes de apertar de novo os ténis, reforçando a segurança antes de desatar a correr, sentindo os picos de adernalina se elevarem de novo no meu sangue. Tinha um dos primeiros jogos decisivos da minha vida à espera, a uns quilómetros dali. E não conseguia segurar-me mais até que ele começasse.

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